Por Marcos Coimbra,
Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes e Conselheiro
da ESG
O Diálogo Interamericano foi fundado em 1982, por iniciativa do banqueiro David
Rockefeller. Seu endereço, à época, era: 1333 New Hampshire Avenue, N.
W.- suite 1070-Washington, D. C. -20.036 (telefone: 202-466-6410). É composto
por cidadãos oriundos dos EUA, Canadá, México, América do Sul
e Caribe. Seus dois objetivos principais são: a) propiciar um
significativo canal não governamental de comunicação entre líderes das
Américas; b) providenciar análise substancial e propostas de políticas
específicas, com o objetivo de resolver problemas regionais cruciais. Tudo isto
dentro do receituário neoliberal, preconizando o fortalecimento das entidades
de direitos humanos, o enfraquecimento das Forças Armadas, a necessidade de
garantir o pagamento das dívidas externas e privatização de empresas estatais
para abater dívidas e a questão das drogas, em especial no que afeta ao
Poder Nacional dos EUA.
Suas principais fontes de financiamento são as Fundações Ford,
Rockefeller, MacArthur, a corporação Carnegie e outras. No ano de 1988, houve
uma reunião ampla, já acrescida de novos membros, em Washington, quando
então foram acordadas as políticas e estratégias a serem adotadas para
domínio da América Latina e do Caribe, de onde surgiu a expressão “Consenso de
Washington”, porém do qual resultou , por escrito, apenas um documento modesto,
informando sua realização, sem entrar em pormenores, em função da
gravidade dos assuntos tratados e da necessidade de sigilo. Não é por acaso que
o instituto da reeleição foi implementado na Argentina, no Peru e no Brasil,
nem a nomeação de integrantes desta “seleta” elite para cargos de
importância em seus respectivos países, bem como a padronização
caracterizada pela subordinação das medidas econômicas de todos os países ao
FMI, pela elevada taxa de juros, pelo brutal endividamento externo e
interno, pela tentativa de “dolarização” das economias, pela pressão para
implantar o “currency board”, pelo fortalecimento das ONG’s (vide o "Viva
Rio" no Brasil, que orienta a política de segurança pública do país)
e das comissões de “direitos humanos” (vide o papel desempenhado pelo
secretário nacional de direitos humanos, Sr. José Gregori), pelo desarmamento
da população ( vide projeto encaminhado ao Congresso pelo Presidente FHC),
pela venda por “tostões” das joias da coroa, pela cumplicidade da grande
imprensa, pela entrega de setores vitais e estratégicos dos respectivos
países a empresas estrangeiras, algumas até estatais, pela pressão para
incorporação do Mercosul à ALCA .
Possuía, em 1988,
setenta fundadores, dentre os quais destacamos: a) Brasil- Sr. Fernando
Henrique Cardoso- ex-presidente do CEBRAP; Sr. Celso Lafer, Ministro do
Desenvolvimento; Sr. Roberto Civita, Presidente da Editora Abril. Mais tarde
entrou o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, Ex-candidato à Presidência; b) EUA- Sr.
Albert Fishlow- Departamento de Economia da Universidade da Califórnia
(Berkeley); Sr. Cyrus Vance- Ex-Secretário de Estado; Sr. Robert McNamara-
Ex-Secretário de Defesa; Sr. Abraham Lowenthal- Diretor Executivo do Diálogo e
Professor da Universidade da Califórnia; Sr. Peter Hakim- atual
Presidente do Diálogo. Encontramos ainda figuras de proa de praticamente todos
os países da América do Sul, como o Sr. Raúl Affonsin, Ex-Presidente da
Argentina, o Sr. Mario Vargas Llosa, Ex-candidato à Presidência do
Peru, o Sr. Enrique Iglesias, Presidente do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e o Sr. Júlio Maria Sanguinetti, Presidente atual do
Uruguai, mas licenciado do Diálogo, em função de suas atuais funções.
Como podem os leitores perceber, é uma amostra significativa. Todos estes dados
podem ser encontrados na Biblioteca do Congresso dos EUA, livremente, numa
publicação com mais de 50 páginas, datada de 28 de abril de 1988- “The Americas
in 1988: A Time for Choices”.
O aparentemente
incompreensível, nesta lista de membros do Diálogo, é a presença do Sr. Luís
Inácio Lula da Silva, Presidente de Honra do PT, que frequentemente ataca a
"política" empreendida pelo Presidente FHC, a qual nada mais é do que
o fiel cumprimento das normas ditadas justamente pelos "donos do
mundo", através da Trilateral, do Diálogo Interamericano e do
Consenso de Washington. Afinal, o Presidente FHC e o Sr. Lula assinaram o mesmo
documento, concordando assim com sua execução. Como pode o Presidente de Honra
do PT, então, atacar estas ações de submissão, de entreguismo explícito, de
subserviência incondicional, às quais formalmente aderiu, com sua assinatura? Qual
é a verdadeira posição do Sr. Lula? Concorda ou não com o receituário
neoliberal? Caso negativo, deve redimir-se imediatamente, reconhecendo o erro
cometido e mandando retirar sua assinatura de adesão. Caso positivo, o PT fica
devendo uma explicação ao povo brasileiro. De fato, é um partido de oposição ou
apenas realiza um jogo de cena fingindo ser do contra, mas compactuando com a
destruição do país, tão bem denunciada por brasileiros do porte de um Barbosa
Lima Sobrinho?
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