Para formar novos Zuckerbergs, cursos, escolas e ONGs trabalham para introduzir a programação na vida dos jovens. - daniel cleffi / Divulgação/MadCode
RIO - Mark Zuckerberg está entre as 20 pessoas mais ricas do mundo, com fortuna estimada em US$ 46 bilhões segundo a “Forbes”, e um detalhe em sua biografia foi determinante para todo o sucesso: o aprendizado de programação ainda na adolescência. O primeiro site criado pelo agora bilionário não foi o Thefacebook.com, mas uma página simples, com dicas de linguagem Java, lançada quando tinha apenas 15 anos. E para formar novos Zuckerbergs, cursos, escolas e ONGs trabalham para introduzir a programação na vida das pessoas, sobretudo das mais jovens.
Um dos projetos mais bem-sucedidos é a Hora do Código, promovido no Brasil pelas Fundações Lemann e Telefônica Vivo. Trata-se de uma página na internet (programae.org.br/horadocodigo) com uma série de desafios, de introdução a lógica de programação, que são realizados em cerca de uma hora. Para atrair o público infantil, as tarefas são em formato de jogos, com personagens conhecidos das crianças. É possível, por exemplo, aprender com os universos de “Frozen“, “Star Wars“ ou “Minecraft“.
— A iniciativa foi da organização americana Code.org, como uma estratégia para mostrar às pessoas que programar não é um bicho de sete cabeças — explicou Lucas Machado, coordenador de projetos da Fundação Lemann. — Com empenho e as ferramentas certas, qualquer pessoa pode ter o primeiro contato com a programação.
LÁ FORA, CURRÍCULO OBRIGATÓRIO
Durante uma semana em dezembro, o projeto coordena instituições parceiras para incentivar jovens a completarem os desafios. No ano passado, a Hora do Código foi acessada por cem milhões de pessoas de 180 países, sendo um milhão do Brasil. Este ano, a estimativa era que dois milhões de jovens brasileiros teriam contato com a ferramenta.
— A grande novidade deste ano é o tutorial do “Minecraft”, criado pelos próprios designers do jogo — disse Kátia Gianone, diretora de Comunicação e Cidadania da Microsoft, uma das apoiadoras da Code.org. — É uma maneira lúdica de estimular a curiosidade das crianças para a programação. Com blocos, elas devem cumprir tarefas e, depois, podem ler o código que criaram.
O ensino da programação tem sido visto como poderosa ferramenta não apenas pelo conhecimento em si, mas para o desenvolvimento de outras habilidades, como lógica e resolução de problemas. Alguns países, como Inglaterra, Estônia e Austrália, já inseriram a disciplina no currículo escolar obrigatório. China e outros países asiáticos também investem em programação.
Por aqui, alguns colégios particulares oferecem a matéria a seus alunos, ou em cursos extracurriculares. Felipe Fernandes, líder do Code Club Brasil, dá aula de programação para estudantes do 6º ao 9º ano no Oga Mitá, no Rio. As aulas são direcionadas para a resolução de problemas, e nada parecidas com as massantes e ultrapassadas aulas de informática.
— O que tentamos é despertar a competência do pensamento computacional, o raciocínio lógico. Se eu quero fazer o meu robô pular, o que eu preciso fazer? É assim que eles aprendem a programar — contou Fernandes.
MAIS QUE CONSUMIDORES
De acordo com o professor, um ponto interessante das aulas é mostrar aos alunos que eles não precisam ser apenas consumidores de softwares e mídias. Diferentemente de alguns anos atrás, quando a escola ensinava a operar um programa, as crianças são estimuladas a criar seus próprios jogos e aplicativos.
E para aproveitar a onda, começam a surgir cursos e até colônias de férias de programação para o público infantil. Daniel Cleffi é o fundador da paulista MadCode, que oferece cursinhos para crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos. A empresa funciona há dois anos e já possui quatro endereços na capital de São Paulo. A expansão para o Rio de Janeiro está nos planos e, para testar a receptividade do mercado carioca, o empresário ofereceu pela primeira vez uma colônia de férias. As vagas já foram todas preenchidas.
Para os alunos mais novos, ainda não alfabetizados, as atividades são basicamente off-line, com brincadeiras para desenvolver o raciocínio lógico e a capacidade de abstração, além de exercícios em tablets. A partir dos 7 anos, as aulas introduzem linguagens de computação, sempre de forma lúdica.
— A alfabetização digital está se tornando extremamente importante, da mesma forma que o inglês era na minha infância — diz Cleffi. — Aprender a programar está se tornando fundamental, isso empodera a criança a resolver problemas do seu cotidiano.
Para jovens sem condições de pagar por cursos e colégios particulares, o Comitê para Democratização da Informática (CDI) oferece oportunidades. A ONG criou este ano o programa Recode, para que jovens “reprogramem” suas vidas e realidades por meio da tecnologia. Os cursos seguem a metodologia de resolução de problemas, e os alunos aprendem a programar e criar de aplicativos.
Os primeiros resultados já começam a surgir. Alguns participantes foram premiados em concursos internos e podem, em breve, se tornar empreendedores. Para isso, o CDI busca investidores para transformar os projetos em start-ups.
— Queremos que se tornem realidade — disse Elaine Pinheiro, diretora-executiva do CDI.
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