Genral de Brigada Paulo Chagas
Um fato histórico não pode ser apagado da memória da Pátria, muito menos da memória dos que o protagonizaram e dos que herdaram, institucionalmente, a responsabilidade e os ensinamentos dele decorrentes.
Vivemos, no momento atual, mais do que em qualquer outro, a necessidade de repensar o Brasil e de voltarmos os olhos para março de 1964 e fazer valer as lições aprendidas, apanágio da profissão que escolhemos pela vocação do amor à Pátria.
As circunstâncias, hoje, são outras e só o são porque, no período que sucedeu a Revolução, as instituições que a promoveram não fugiram do dever de assumir o caos e de transformá-lo em ordem e progresso, conforme propõe o lema republicano, desde o advento do regime, em meio a sucessivas crises politico-militares, que mantinham em suspenção os escombros da implosão súbita do Império.Vivenciamos outra vez o caos político e econômico, agravado por um descalabro moral e ético jamais visto na história. O povo brasileiro, deixado à mercê de sua vontade, mas, “deseducado e iludido, elegeu uma classe política absurdamente corrupta, irresponsável e despreparada”.E “de repente, diante do caos, cresce o desejo de mudar esse cenário e muitos pedem que retornemos ao passado e limpemos o chiqueiro”.
Esta atitude é o testemunho incontestável do choque com a realidade e da desilusão que contamina todos os níveis da sociedade minimamente informada e que atesta, em regime de sofrimento e de falta de perspectivas, o quanto devemos aos heróis de 1964 que, abraçados aos interesses da Pátria, em meio às ameaças da Guerra Fria, espremidos entre dois poderosos blocos antagônicos, souberam interpretar a vontade nacional, identificar o perigo e tomar a iniciativa para neutralizá-lo.
É nesse contesto que devemos rememorar e enaltecer o contragolpe de 31 de março de 1964.
No início dos anos 60, o Brasil não tinha instituições maduras e fortes para sustentar a democracia, abalada por sucessivas crises político-militares. O progresso não proporcionava as necessidades básicas da maioria da população, o que facilitou a ocupação de espaços importantes pela esquerda radical infiltrada em sindicatos, no meio acadêmico, na mídia, nos órgãos de governo, na Igreja e até nas Forças Armadas.
A situação político-social prenunciava um conflito com potencial para desaguar numa guerra civil de cunho revolucionário. Luiz Carlos Prestes, declarara que seu partido já tinha o governo e só lhe faltava o poder.
Em 13 de março de 64, o presidente João Goulart radicalizou o discurso, tentando, na lei ou na marra, intimidar as instituições, inclusive o Legislativo, visando aprovar medidas populistas e angariar o apoio ou a neutralidade da população face ao golpe em curso.
A quebra da hierarquia e da disciplina nas FFAA reforçava a crença na vitória. Jango juntara-se ao golpe comunista e os setores do governo, sindicatos e partidos de esquerda articulavam-se para implantar aqui uma República Sindicalista, pela qual o país ingressaria no bloco comunista, seguindo os passos de Cuba.
O “31 de Março” foi o desfecho de um movimento civil-militar que mobilizou toda nação e impulsionou as FFAA, sem dar condição de reação a um governo que perdera a autoridade moral e o respeito da nação.
A Folha de São Paulo, de 27 de março de 1964 publicou: "Até quando as forças responsáveis deste país, as que encarnam os ideais e os princípios da democracia, assistirão passivamente ao sistemático, obstinado e agora já claramente declarado empenho capitaneado pelo presidente de República de destruir as instituições democráticas?".
Nos dias subsequentes, milhões de cidadãos comemoraram a vitória da democracia em todos os estados da Federação, como registrou a mídia em âmbito nacional.
O insucesso da via pacífica levou, no entanto, a esquerda radical a deflagrar a luta armada. O Brasil, ao cortar o mal na raiz, escapou do destino infeliz que lhe desejavam os mesmos que hoje ocupam o poder pela via da mentira e da exploração das próprias vulnerabilidade da democracia.
Em 21 anos de regime militar, foram cerca de 500 mortos em confrontos nas áreas urbanas e rurais, sendo 400 militantes da esquerda armada aos quais, seguindo o exemplo magnânimo de Caxias, pediremos o perdão e o consolo divino, amanhã, na missa em memória dos mortos na luta armada. Um alto custo para poucos, mas muito baixo se comparado ao da impunidade e da criminalidade que hoje nos intimida.
É hipocrisia a condenação dos governos militares por excessos na reação à luta armada, feita por quem idolatra ditaduras e lideranças criminosas; concede asilo a terroristas estrangeiros condenados, mas devolve fugitivos da ditadura cubana; financia e confraterniza com ditos movimentos sociais, cujas ações resultam, impunemente, em invasões, destruições e mortes.
De 1922 a 1964, houve cerca de duas dezenas de crises institucionais onde chefes militares, envolvidos na política partidária, arrastavam consigo parte da tropa em um Brasil ainda imaturo para a democracia. Havendo ou não honestidade de propósitos, ficavam prejudicados: o compromisso militar, que deve ser exclusivo com a nação; a dedicação, que deve ser integral à missão constitucional; e os princípios de hierarquia e disciplina, comprometendo a coesão nas FFAA e a própria unidade nacional. O regime de 1964 afastou as Forças e os militares da ativa da política partidária e criou condições para o fortalecimento das instituições. As crises políticas não tiveram mais o envolvimento militar e, hoje, são resolvidas nos foros apropriados.
Os generais presidentes reconheciam a excepcionalidade do regime e manifestavam permanentemente o objetivo de retorno à normalidade democrática, o que se cumpriu com a revogação do AI-5, a anistia e a abertura política logo após a derrota da luta armada e a aceitação pelos ex-guerrilheiros das regras do jogo democrático.
A redemocratização veio a partir de 1978, não por obra da esquerda revolucionária já desmantelada. É um engano considerá-la vitoriosa porque antigos militantes ocupam, hoje, posições importantes na sociedade. Eles não chegaram ao poder pela força das armas e sim como cidadãos com plenos direitos assegurados na anistia concedida pelo próprio regime em 1979. Abandonaram a luta armada, derrotados, e se submeteram às normas democráticas, reintegrando-se à sociedade na forma da lei, em pleno regime militar e como exigiam a Nação e o Estado.
O Brasil tornou-se uma democracia, aspiração da sociedade, da oposição legal e dos governos militares, e não um país comunista escravizado por um partido único, objetivo permanente da esquerda revolucionária, hoje, outra vez, no poder, mas não no domínio das mentes e dos corações dos brasileiros que, em massa, retornaram às ruas, 52 anos depois do Comício da Central do Brasil, no último 13 de março, para dizer BASTA!
Basta à corrupção e ao enriquecimento ilícito! Basta à incompetência, à desonestidade, à luta de classes. Basta à política de gênero, à desvalorização do mérito, ao desrespeito à vida. Basta ao desemprego, à recessão, à inflação, aos impostos escorchantes e ao descaso para conosco que somos os verdadeiros donos deste País!
Os Marinheiros, Soldados e Aviadores, cidadãos fardados nunca apartados da sociedade a que servem e em nome da qual impunham suas armas, não estão alheios à conjuntura hostil ou descuidados do cumprimento do seu dever. Têm a motiva-los o exemplo histórico da Revolução Democrática de 1964 que não pode ser, nem nunca será,apagado da memória dos que amam com fé e orgulho este solo sagrado das Terras de Santa Cruz!
BRASIL, ACIMA DE TUDO!!
Gen Bda Paulo Chagas
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