Publicado por Canal Ciências Criminais
Por Bernardo de Azevedo e Souza e Henrique Saibro
“Nós, serial killers, somos seus filhos, seus maridos, estamos em toda parte. E haverá mais de suas crianças mortas amanhã” (Ted Bundy)
A PERSONALIDADE
Theodore “Ted” Robert Bundy, como quase todos os assassinos em série, teve uma conturbada infância, repleta de violência e incertezas. Sua mãe, Louise, quando ainda muito jovem, envolveu-se sexualmente com um militar da Força Aérea Americana – muito mais velho do que ela. E, desse breve relacionamento, a jovem, em novembro de 1946, acabou tendo um filho, cujo pai nunca mais foi visto. Para evitar um escândalo na vizinhança e na família, os pais de Louise resolveram abafar o caso, inventando que o recém-nascido Theodore Bundy era, na verdade, seu filho e, portanto, irmão mais novo de Louise.
Ocorre que os “pais” de Ted não eram amistosos; o jovem criou-se assistindo o seu avô espancando a sua avó inúmeras vezes. Agressões físicas e verbais faziam parte da rotina familiar. Visando evadir-se desse contexto truculento, Louise casou-se com John Culppeper Bundy, mudando-se para outra cidade e levando, junto com o casal, o seu filho biológico Ted – na época com cinco anos de idade.
Não faltaram esforços para o padrasto de Bundy tentar aproximar-se do menino, mas todo o seu empenho foi inútil. É que Ted não aceitava o fato de ter sido separado dos seus “pais” para viver com a sua “irmã”. Deve-se frisar que não ventilava na sua cabeça a hipótese de o seu pai afetivo ser, na verdade, o seu vô – daí toda a sua incompreensão.
Em sua nova cidade, Bundy era considerada uma criança tímida, solitária e bastante insegura. Passava o seu tempo cuidando de seus irmãos mais novos e torturando animais (comportamento juvenil comum entre psicopatas). Sofria bullying na escola onde estudava, mas, apesar disso, mantinha uma desenvoltura acadêmica brilhante: era o melhor aluno do colégio. Com o passar dos anos, passou a ser considerado por seus conhecidos como um rapaz inteligente, educado e elegante. Trabalhou desde cedo, apesar de nunca ter mantido estabilidade em seus empregos.
Com 21 anos, Bundy apaixonou-se loucamente por uma menina pertencente a uma classe social mais alta do que a dele. Apesar de Ted ter dedicado cada segundo de sua nova vida à sua amada, um ano após ao início do namoro ela terminou o relacionamento. Bundy nunca superou tal rejeição. Entrou em uma grave depressão e abandonou os estudos. Tentava, a todo custo, reconciliar o namoro, mas sua ex-namorada estava decidida a seguir a sua vida,
E o pior é que, no mesmo ano, veio à tona o segredo de sua família: os seus pais de criação eram seus avós e a sua irmã tratava-se, pois, de sua mãe. A notícia chegou como açoite a Ted, que, a partir de então, virou uma pessoa mais fria e obcecada em manter o controle de absolutamente tudo em sua vida. Foi justamente em razão desse afã que voltou a estudar e acabou formando-se em psicologia, tendo sido laureado por seu incrível desempenho nas notas. Com 23 anos achou uma nova companheira: Meg Anders. Ambos passaram a morar juntos e acabaram casando e tendo um filho. Entretanto, Ted mantinha contato com sua primeira namorada.
Ted Bundy na juventude
Bundy começou a estudar direito e filiou-se ao Partido Republicano, atividade essa que exercia com assiduidade – muitos cotavam-no como um provável candidato político. Ted chegou a salvar a vida de uma criança que estava se afogando. Seu heroísmo rendeu uma condecoração em Seattle. Aos 27 anos, em uma viagem para o Partido Republicano, Bundy encontrou-se novamente com sua antiga amada e não mediu esforços para reconquistá-la. Mas o seu objetivo, agora, era outro: rejeitá-la e fazê-la sofrer, para que sentisse toda a desgraça amargurada por Ted anos atrás. E ele conseguiu.
Somente através dessa atitude já é possível identificar um alto nível de narcisismo por parte de Bundy. Posteriormente, testes psicológicos atestaram que Ted sofria de um grave quadro de esquizofrenia, pois mudava de humor repentinamente, além de ter sido considerada uma pessoa impulsiva, que não demonstrava emoções, saliente, histérica, de dupla personalidade, depressiva, continha complexo de inferioridade, imatura, obsessiva, egocêntrica e com mania de perseguição. Era óbvio que todas essas características não trariam um bom resultado.
OS CRIMES
Todas as vítimas de Ted Bundy foram jovens mulheres. Quando analisado por médicos, referiu que sentia ódio do sexo feminino por causa de sua mãe, de modo que escolhia apenas meninas que possuíssem semelhança física com ela. Bundy, como alguns assassinos em série, mantinha um padrão no seu modus operandi: abordava jovens em escolas, parques, fraternidades, universidades, e fingia estar com o pé ou o braço engessados, pedindo, então, ajuda à vítima para carregar compras ou livros até o seu carro. Utilizava como veículo um fusca, que, artesanalmente, não possuía o banco da frente do carona tampouco o trinco da porta do mesmo lado. Creio que você já tenha entendido o motivo disso tudo.
Como Bundy agia sempre de modo educado e dócil, não era difícil fazer com que a sua presa se dirigisse até o seu carro. Já que a vítima tinha que deixar os objetos do assassino dentro do carro, acabava deixando metade do seu corpo dentro do fusca – e era esse o momento em que Bundy mostrava quem era, pois empurrava-a bruscamente e, em instantes, já a algemava e desferia golpes violentos em sua cabeça, a ponto de deixá-la inconsciente.
A partir daí, Ted variava o destino da vítima. Algumas não sofreram tanto. Eram logo estranguladas, mas, antes de perder a vida, Bundy abusava-as sexualmente. Outras sofriam bastante, como, por exemplo, Melissa Smith, de 17 anos, cujo cadáver foi encontrado com sinais evidentes de tortura. Por dentro, o seu crânio estava em pedaços e todo o seu corpo estava totalmente machucado.
Algumas das vítimas de Ted Bundy
Karen Chandler e Kathy Klein também foram desafortunadas. A primeira teve os dentes quebrados, a sua mandíbula e seu crânio esfacelados, os dedos esmagados e sofrido inúmeros cortes em volta do corpo. A segunda sangrava demais pela cabeça, o seu rosto estava dilacerado por objeto cortante (provavelmente uma faca), quase não possuía mais arca dentária, sua mandíbula estava em pedaços e com sinais de flagelação no pescoço. As duas foram estupradas.
Ao todo, foram dezenas de meninas estupradas, torturadas e assassinadas por Ted. Ele admitiu trinta homicídios em setes Estados diferentes nos Estados Unidos. Entretanto, estima-se que esse número deva ser maior, dados os numerosos casos, com autoria não comprovada, de jovens encontradas sem vida e vitimadas pelo mesmo modus operandi empregado por Bundy.
OS JULGAMENTOS
Ted Bundy foi conduzido a julgamento pela primeira vez em junho de 1979, em Miami, em virtude dos crimes cometidos na Fraternidade Chi Omega, na Universidade Estatual da Flórida. O anjo da morte não fez questão de ter um advogado e decidiu se defender sozinho. Estava completamente confiante de que conseguiria convencer o júri de sua inocência. Mas o tiro saiu pela culatra: Nina Reary, testemunha de Acusação, reconheceu Bundy como sendo o homem armado – com um pedaço de pau – que descia as escadas da fraternidade.
Bundy, durante seu primeiro julgamento, fazendo a própria defesa
Somado ao reconhecimento de Nina, a tese defensiva foi ainda mais enfraquecida com o depoimento do odontologista Dr. Richard Souviron, que descreveu as marcas de mordidas encontradas no corpo de Lisa Levy e apresentou fotografias retiradas na noite do homicídio. As imagens foram comparadas com os moldes odontológicos de Bundy e combinaram perfeitamente. A prova técnica conectava o réu aos crimes imputado.
O veredicto ocorreu em 23 de julho de 1979. Após quase sete horas de deliberação, o júri considerou Ted Bundy culpado de todas as acusações. Foi considerado também culpado dos ataques contra Kathy Kleiner e Karen Chandeler. O anjo da morte ouviu o resultado sem expressar qualquer sinal de emoção. Foi sentenciado à pena de morte.
Em Orlando, Ted Bundy foi julgado pela segunda vez em 7 de janeiro de 1980, pelo assassinato de Kimberly Leach. Para evitar o erro anterior, optou por ser representado por uma dupla de advogados. A tese defensiva consistiu em provar a insanidade do acusado. Mesmo com todos os esforços da Defesa, a Acusação apresentou 65 testemunhas que conectavam Bundy à vítima no dia do desaparecimento. O anjo da morte foi mais uma vez considerado culpado e sentenciado à morte.
Bundy conversando com seus advogados durante o segundo julgamento
A PRISÃO
Com duas sentenças de morte lavradas – e uma terceira que sobreveio posteriormente – Ted Bundy foi encaminhado para o corredor da morte da Prisão Estadual da Flórida, onde permaneceu por quase uma década. Durante o período em que ficou preso, concedeu algumas entrevistas para jornalistas.
Ted Bundy tentou reverter as condenações por meio de seus advogados, sem, contudo, obter êxito. Com todas as vias de recurso esgotadas, concordou em falar francamente com os investigadores e confessou a maioria de seus crimes. De acordo com um dos detetives, os relatos eram tão detalhados que davam a impressão de que Bundy estava no local dos fatos, revivendo os crimes.
A EXECUÇÃO
A execução estava marcada para o dia 24 de janeiro de 1989. No lado de dentro da Prisão Estadual da Flórida, Bundy fazia sua última refeição: filé, ovos, purê de batata e café. No lado de fora, aproximadamente duas mil pessoas cantavam, dançavam e soltavam fogos de artifício aguardando ansiosamente a execução. Em placas, cartazes e camisetas eram vistas frases como “Fry, Bundy, Fry” e “Barbecue [Churrasco de] Ted”. Foi criado até mesmo um neologismo para a ocasião, unindo-se o termo “Fry” (fritar, em inglês, em referência à cadeira elétrica) e “Friday” (sexta-feira, em inglês, em referência ao dia da semana que ocorreu a execução):“It’s Fryday, TED!”
Populares aguardando a execução de Bundy
As últimas palavras de Ted Bundy foram direcionadas à sua mãe, desculpando-se pela dor causada. Era o fim do anjo da morte. Bundy era um misógino e vitimou diversas mulheres ao longo de sua vida. Por ironia do destino, talvez, foi uma mulher quem acionou a cadeira elétrica que deu fim à sua vida.
REFERÊNCIAS
CASOY, Ilana. Serial killers: louco ou cruel? Rio de Janeiro: Darskide, 2014.
RULE, Ann. The stranger beside me. New York: Signet Books, 1980.
Fonte: Canal Ciências Criminais
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