"Eles só estavam em nome de outras pessoas", segundo Igor Romário de Paula
Por: Felipe Moura Brasil
Destaco os melhores trechos das entrevistas dos delegados Igor Romário de Paula (foto) e Mário Anselmo, pais da operação Lava Jato, à VEJA e ao Estadão, respectivamente.
É gente que faz o Brasil resistir à organização criminosa que assaltou o país.
1) VEJA: O senhor citou o sítio de Atibaia e o tríplex do Guarujá como sendo do ex-presidente Lula, algo que ele nega. A polícia dispõe de provas irrefutáveis de que ele mente?
Igor Romário: A equipe de investigação tem 100% de certeza de que os dois imóveis pertencem à família do ex-presidente. Eles só estão em nome de outras pessoas. Na última perícia minuciosa que fizemos no sítio não encontramos um item sequer pertencente a alguém que não seja da família do ex-presidente. Tudo o que está lá é dele, incluindo camisetas e canecas com o escudo do Corinthians, além de uma série de fotografias de parentes. Está tudo filmado e fotografado.
* Eu havia tuitado no sábado:
VEJA: Críticos da Lava-Jato afirmam que as investigações têm caráter partidário e limitam seu foco ao PT e a partidos que apoiam o governo. O que o senhor diz sobre isso?
Igor Romário: As investigações focam as empresas privadas que têm contrato com o governo e o próprio governo. Estamos investigando pessoas que exercem cargo público há mais de doze anos. Assim, parece natural para nós que elas recaiam sobre pessoas que estão no governo – e que, portanto, pertencem ao PT e a partidos aliados. Isso não quer dizer que a oposição não será investigada. No entanto, os fatos surgidos até agora que envolvem políticos da oposição ocorreram em prerrogativa de foro, não ficam na primeira instância.
VEJA: O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (PT-SP) deixou o governo por causa da pressão de setores de seu partido que diziam que ele não conseguia controlar a Polícia Federal. Não conseguiu mas tentou?
Igor Romário: No âmbito administrativo, nunca houve interferência. Nunca fui perguntado, por exemplo, sobre o que estava sendo investigado ou o que estava sendo deixado de lado. Também nunca fui perguntado sobre futuras ações no âmbito da operação. Temos notícias, entretanto, de que havia pressão política sobre a direção-geral da PF. Mas isso nunca se refletiu no nosso trabalho. Para se ter uma ideia, a direção da PF em Brasília só fica sabendo das operações quando já cumprimos mandados de prisão e de busca e apreensão.Então é de supor que a troca de ministros tenha gerado receio entre os policiais. Gera um pouco de apreensão, até porque houve uma mudança que não deu certo e que obrigou o governo a fazer uma segunda mudança. Por causa dessa instabilidade política, não sabemos como vão ficar as coisas. Mas sabemos que, atualmente, não há mais espaço para direcionar as investigações. Nossa esperança é que continuemos desfrutando da mesma independência.
2) Estadão: O que a Lava Jato ensina?
Márcio Anselmo: O principal é que é possível combater a corrupção no País, isso foi uma prova. A gente já tinha no ideário fraudes em obras públicas, teve uma situação emblemática de uma entrevista de um advogado do caso que disse aqui na porta da PF que não se colocava um paralelepípedo no País sem pagar para alguém.
A Lava Jato conseguiu escancarar isso de uma maneira indiscutível e talvez a grande lição é que é possível você ter uma persecução criminal para esses crimes e que essas pessoas estão começando a responder por eles. Quem tinha a expectativa lá de que o crime ia compensar, talvez hoje repense. Nós mesmos acreditávamos na época da sétima fase (Juízo Final, que levou os primeiros empreiteiros para a cadeia) que essas pessoas não iam ficar presas e efetivamente a gente tem aí uma série de pessoas que foram mantidas detidas por decisões dos tribunais superiores, muitas delas já condenadas.
Estadão: Qual foi o recado das ruas no 13 de março de 2016?
Márcio Anselmo: O envolvimento da população talvez…, nunca se viu antes. Talvez exista uma relação direta da posição do doutor Sérgio Moro (juiz dos processos em primeira instância da Lava Jato) de afastar o sigilo nesses casos de corrupção para que se tenha um controle social efetivo. muitas vezes o que acontecia nessas investigações ficava encoberto em escaninhos do Judiciário e ninguém tinha a noção da gravidade desses fatos. Acho que isso foi fundamental para que a população tomasse efetivamente conhecimento do que estava acontecendo e ela tem respondido de uma maneira… Ela sente o reflexo disso no dia a dia e passou a responder no sentido de que isso não vai mais ser admitido na estrutura do País. Acho que isso deve ser um legado da Operação Lava Jato.
Felipe Moura Brasil ⎯ http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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